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stress,dadaísmo e pãezinhos mofados
segunda-feira, agosto 25, 2003
O MÉTODO DO CUT-UP
William S. Burroughs
O método é simples. Aqui está uma maneira de fazê-lo. Pegue uma página. Como esta página. Agora corte do meio para baixo. Você tem quatro seções: 1, 2, 3, 4,...um dois três quatro. Agora rearranje as seções colocando seção quatro com seção um e seção dois com seção três. E você tem uma nova página. Às vezes diz a mesma coisa. Às vezes alguma coisa bem diferente - cutapear discursos políticos é um exercício interessante - de qualquer modo você vai descobrir que isso diz alguma coisa e alguma coisa bem definida. Pegue qualquer poeta ou escritor que você admira, digamos, ou poemas que você tenha lido muitas vezes. As palavras perderam significado e vida por anos de repetição. Agora pegue o poema e datilografe passagens selecionadas. Encha uma página com excertos. Agora corte a página. Você tem um novo poema. Tantos poemas quanto você queira. Tristan Tzara disse: ?A poesia é para todos.? E André Breton chamou-o de tira e o expulsou do movimento. Diga de novo: ?A poesia é para todos.? A poesia é um lugar e é livre para todos cutapear Rimbaud, e você se colocar no lugar de Rimbaud. Aqui está um poema cut-up de Rimbaud:
Visita de lembranças. Apenas sua dança e sua voz casa. No ar suburbano improváveis deserções...tudo harmônico pinho por luta.
Os grandes céus estão abertos. Candor de vapor e tenda cuspindo sangue risada e bêbada penitência.
Promessa de vinho perfume abre devagar garrafa.
Os grandes céus estão abertos. Supremo clarin queimando carne crianças para névoa.
Cut-ups são para todos. Qualquer um pode fazer cut-ups. É experimental no sentido de ser algo a fazer. Aqui mesmo, agora mesmo, escreva*. Não algo sobre o que falar ou discutir. Filósofos gregos assumiram logicamente que um objeto duas vezes mais pesado que outro, cairia duas vezes mais rápido. Não ocorreu a eles empurrar os dois objetos além da mesa e ver como eles caem. Shakespeare e Rimbaud vivem em suas palavras. Corte as linhas e você vai escutar suas vozes. Cut-ups frequentemente funcionam como mensagens em código com significado especial para quem corta. Prestidigitação? Talvez. Certamente uma melhoria nas usuais e deploráveis performances de poetas recebidos por um médium. Rimbaud se anuncia, para ser seguido por alguma poesia excruciantemente ruim. Corte as palavras de Rimbaud e você está assegurado pelo menos de boa poesia, quando não de uma aparição pessoal.
Toda escrita é de fato cut-ups. A colagem de palavras lidas escutadas superescutadas. O que mais? O uso de tesouras torna o processo explícito e sujeito a extensão e variação. Prosa clássica clara pode ser composta inteiramente de cut-ups rearranjados. Cortar e rearranjar uma página de palavras escritas introduz uma nova dimensão para a escrita possibilitando ao escritor converter imagens em variação cinemática. As imagens mudam de sentido sob as tesouras cheiram imagens para soar visão e soar som, para cinestesia. Aqui é onde Rimbaud estava indo com sua cor das vogais. E seu ?sistemático desrregramento dos sentidos?. O lugar da alucinação de mescalina: ver cores provar sons cheirar formas.
O método do cut-up traz a escritores a colagem, a qual tem sido usada por pintores por setenta anos. E usada pelas câmeras foto e cinematográficas. De fato todos os cortes de rua do cinema ou de câmeras fotográficas são, pelos imprevisíveis fatores de passantes e justaposição, cut-ups. E fotógrafos vão dizer a você que frequentemente seus melhores instantâneos são acidentes...escritores vão dizer o mesmo. Os melhores escritos parecem ser aqueles feitos quase por acidente por escritores até que o método do cut-up foi tornado explícito - toda escrita é de fato cut-ups; eu retornarei a este ponto - não houvesse nenhum jeito de produzir o acidente da espontaneidade. Você não pode decidir a espontaneidade. Mas você pode introduzir o fator imprevisível e espontâneo com uma tesoura.
*Trocadilho no original: Right here, write now.
Trad. Ricardo Rosas
Texto traduzido da página de Burroughs no site da S press, editora alemã de poesia acústica (spress.de/author/burroughs/).
William S. Burroughs
O método é simples. Aqui está uma maneira de fazê-lo. Pegue uma página. Como esta página. Agora corte do meio para baixo. Você tem quatro seções: 1, 2, 3, 4,...um dois três quatro. Agora rearranje as seções colocando seção quatro com seção um e seção dois com seção três. E você tem uma nova página. Às vezes diz a mesma coisa. Às vezes alguma coisa bem diferente - cutapear discursos políticos é um exercício interessante - de qualquer modo você vai descobrir que isso diz alguma coisa e alguma coisa bem definida. Pegue qualquer poeta ou escritor que você admira, digamos, ou poemas que você tenha lido muitas vezes. As palavras perderam significado e vida por anos de repetição. Agora pegue o poema e datilografe passagens selecionadas. Encha uma página com excertos. Agora corte a página. Você tem um novo poema. Tantos poemas quanto você queira. Tristan Tzara disse: ?A poesia é para todos.? E André Breton chamou-o de tira e o expulsou do movimento. Diga de novo: ?A poesia é para todos.? A poesia é um lugar e é livre para todos cutapear Rimbaud, e você se colocar no lugar de Rimbaud. Aqui está um poema cut-up de Rimbaud:
Visita de lembranças. Apenas sua dança e sua voz casa. No ar suburbano improváveis deserções...tudo harmônico pinho por luta.
Os grandes céus estão abertos. Candor de vapor e tenda cuspindo sangue risada e bêbada penitência.
Promessa de vinho perfume abre devagar garrafa.
Os grandes céus estão abertos. Supremo clarin queimando carne crianças para névoa.
Cut-ups são para todos. Qualquer um pode fazer cut-ups. É experimental no sentido de ser algo a fazer. Aqui mesmo, agora mesmo, escreva*. Não algo sobre o que falar ou discutir. Filósofos gregos assumiram logicamente que um objeto duas vezes mais pesado que outro, cairia duas vezes mais rápido. Não ocorreu a eles empurrar os dois objetos além da mesa e ver como eles caem. Shakespeare e Rimbaud vivem em suas palavras. Corte as linhas e você vai escutar suas vozes. Cut-ups frequentemente funcionam como mensagens em código com significado especial para quem corta. Prestidigitação? Talvez. Certamente uma melhoria nas usuais e deploráveis performances de poetas recebidos por um médium. Rimbaud se anuncia, para ser seguido por alguma poesia excruciantemente ruim. Corte as palavras de Rimbaud e você está assegurado pelo menos de boa poesia, quando não de uma aparição pessoal.
Toda escrita é de fato cut-ups. A colagem de palavras lidas escutadas superescutadas. O que mais? O uso de tesouras torna o processo explícito e sujeito a extensão e variação. Prosa clássica clara pode ser composta inteiramente de cut-ups rearranjados. Cortar e rearranjar uma página de palavras escritas introduz uma nova dimensão para a escrita possibilitando ao escritor converter imagens em variação cinemática. As imagens mudam de sentido sob as tesouras cheiram imagens para soar visão e soar som, para cinestesia. Aqui é onde Rimbaud estava indo com sua cor das vogais. E seu ?sistemático desrregramento dos sentidos?. O lugar da alucinação de mescalina: ver cores provar sons cheirar formas.
O método do cut-up traz a escritores a colagem, a qual tem sido usada por pintores por setenta anos. E usada pelas câmeras foto e cinematográficas. De fato todos os cortes de rua do cinema ou de câmeras fotográficas são, pelos imprevisíveis fatores de passantes e justaposição, cut-ups. E fotógrafos vão dizer a você que frequentemente seus melhores instantâneos são acidentes...escritores vão dizer o mesmo. Os melhores escritos parecem ser aqueles feitos quase por acidente por escritores até que o método do cut-up foi tornado explícito - toda escrita é de fato cut-ups; eu retornarei a este ponto - não houvesse nenhum jeito de produzir o acidente da espontaneidade. Você não pode decidir a espontaneidade. Mas você pode introduzir o fator imprevisível e espontâneo com uma tesoura.
*Trocadilho no original: Right here, write now.
Trad. Ricardo Rosas
Texto traduzido da página de Burroughs no site da S press, editora alemã de poesia acústica (spress.de/author/burroughs/).
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